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2024, o ano mais quente no MS: mudanças climáticas afetam agro e ameaçam o Pantanal

Dados divulgados pelo Cemtec/MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) comprovam que o ano de 2024 foi o mais quente em Mato Grosso do Sul de toda série histórica, que acumula registros das temperaturas desde 1994.
A temperatura máxima superou a casa dos 40°C em 14 municípios monitorados pela rede de meteorologia do Estado, sendo o recorde registrado em Aquidauana com 43,7°C no dia 7 de outubro.
As mudanças climáticas impactam diretamente os preços dos alimentos. O aumento nos custos de produção e as oscilações na oferta resultam em efeitos significativos na economia.
O professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, destaca que as alterações climáticas levam a uma maior instabilidade na oferta de alimentos, o que, por sua vez, influencia nos preços. “Essa volatilidade crescente pode resultar em períodos mais significativos de quebras de safra.”
Além disso, o calor em excesso propicia o aumento de incêndios. Em 2024, 18% do Pantanal Sul viraram cinzas. Foram queimados 1,6 milhão de hectares, o que dá 1,5 vez o tamanho do Catar.
As chamas chegaram ferozmente ao Território Indígena Kadiwéu, ao santuário de biodiversidade Serra do Amolar e ao Refúgio Ecológico Caiman, área privada voltada ao turismo e a projetos de conservação, por exemplo.
Lavouras, estruturas de fazendas e comunidades ribeirinhas também foram afetadas. Além disso, uma pessoa morreu tentando frear incêndio na propriedade onde trabalhava.
Variação de climas
A temperatura média anual do Estado ficou em 26,1°C no ano passado, quase dois graus acima do padrão observado nos últimos 20 anos, que é de 24,5°C. Comparado com 2023 também se observa uma escalada das temperaturas. Naquele ano, 12 cidades registraram máximas acima dos 40°C, enquanto no ano passado foram 14 municípios nessa condição.
No outro extremo, o frio também foi rigoroso em 2024. As temperaturas ficaram abaixo de 10°C em 20 cidades monitoradas pelo Cemtec/MS e, em duas, os termômetros ficaram negativos: Iguatemi com -0,2°C em 11 de agosto e Rio Brilhante com -0,3°C no dia 26 de agosto. Em 2023 as mínimas ficaram abaixo de 10°C em 15 cidades sul-mato-grossenses, enquanto a temperatura mais baixa foi verificada em Rio Brilhante no dia 15 de julho: 1,6°C.
Outro dado preocupante no comparativo entre os dois últimos anos é quanto ao acumulado de chuva nos 18 pontos monitorados pelo Cemtec/MS. O ano de 2023 não foi bom nesse quesito, mas ainda assim a metade dos pontos monitorados registraram chuvas acima da média histórica. Já em 2024 os dados mostram um agravamento da situação, com apenas um ponto de monitoramento localizado no município de Bataguassu tendo registrado chuva acima da média histórica, ainda assim de apenas 33 milímetros.
Aumento dos Preços
Segundo o professor Luciano Nakabashi, o impacto na produção de alimentos já começa no processo de plantio das sementes.
Até pouco tempo, os agricultores confiavam somente em técnicas consolidadas e extensivamente estudadas, ajustadas aos padrões climáticos historicamente esperados para determinadas épocas do ano.
Contudo, a imprevisibilidade climática recente tem alterado drasticamente esses cenários e comprometendo os cultivos.
A seca prolongada, por exemplo, resulta na inviabilidade das sementes, incapazes de germinar devido à escassez de água.
Em contrapartida, o excesso de chuvas também se revela prejudicial, levando à morte das plantas devido à grande quantidade de água.
“Com a seca prolongada, as sementes tornam-se inviáveis, incapazes de germinar por falta de água. Em outros casos, com chuvas excessivas, as plantas sucumbem devido ao acúmulo de água no solo, causando a saída de oxigênio e privando as plantas das condições essenciais para a sobrevivência”, afirma o professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz em Piracicaba (Esalq).
Mudanças Climáticas no Mato Grosso do Sul:
Acesse AQUI o balanço das condições climáticas de 2023.
Acesse AQUI o balanço das condições climáticas de 2024.