Política
Fisiologismo do PT-MS fica expresso ao desembarcar do Governo por nota em que Riedel conclama ao diálogo e ao bom senso

O Partidos dos Trabalhadores (PT) de Mato Grosso do Sul anunciou o rompimento com o Governo de Eduardo Riedel (PSDB) e pediu aos filiados, que ocupem cargos na gestão tucana no Estado, para que os coloquem à disposição.
“Ninguém que ficar no governo ficará com o aval da direção do PT – então, estará, obviamente, sujeito a sanções ou terá que se afastar do partido. Se licenciar, se afastar. Talvez alguns sigam esse caminho” – A declaração é do presidente do PT de Mato Grosso do Sul, Vladimir da Silva Ferreira.
Fisiologismo
O fisiologismo do PT sempre foi essência da sua sobrevivência – com exceção da sua primeira década quando ainda mantinha vivas as raízes da sua criação em 1980, surgindo como um partido de massas intrinsicamente ligado às lutas sindicais, movimentos sociais e com forte representação de setores que se opunham à ditadura militar, incluindo a Igreja Católica, sindicatos, intelectuais e organizações de esquerda.
A partir das eleições de 1992, o PT conseguiu eleger Prefeitos e Vereadores pelo Brasil afora e nas décadas seguintes contribuiu ativamente para formar o autêntico amálgama em que se transformou a política no Brasil.
Basta dizer que nos Governos Lula 1, 2 e 3, além do Governo Dilma, o PT aliou-se a partidos com ideologias, valores e compromissos muito distantes daqueles que originaram sua criação.
No atual Governo Lula, dos trinto e oito Ministérios, apenas doze são ocupados pelo PT, os demais por titulares sem partido ou por filiados ao União Brasil, PP, PSDB, MDB, PSD, além de outros como PDT, PCdoB, Rede e PSOL, estes últimos aliados de sempre.
Saber Governar
Há de se questionar a importância das alianças para viabilizar a governança – nos municípios, nos Estados e na Presidência da República. É sempre o caminho mais curto para evitar muito trabalho, o exercício pleno da democracia que é conviver com os iguais e desiguais e saber Governar, acima de tudo e apesar de tudo.
O Governo Lula fala em eliminar a pobreza com Programas Sociais – que são, sim, necessários para um país continental e com tantas desigualdades como o Brasil – mas não podem ser a base de tudo o que se faz ou ainda se pretende fazer. Projetos estruturantes são fundamentais para, no logo prazo, oferecer oportunidades de qualificação, trabalho e renda para estas famílias.
Apoio a Riedel
Em respeito às suas raízes, o Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul poderia ter escolhido outro caminho, no segundo turno das eleições de 2022 – não o do purismo ideológico das alianças e coligações sempre à disposição no cardápio, mas o da coerência. E não o fez.
Ao apoiar a então candidatura de Eduardo Riedel (PSDB), foi incoerente com suas raízes. Não por Riedel ser de direita, até porque sempre foi filiado ao PSDB – Partido da Social-Democracia do Brasil, mas por puro fisiologismo. Em havendo cargos, orçamentos e a perspectiva de que “outro mundo é possível”, como dizia Paulo Freire, a composição com o então Governo eleito foi considerada natural pelo partido no Estado.
Em sua extensa bibliografia, o mesmo Paulo Freire disse – “(…)a práxis, porém, é a reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo”. No caso, a prática petista no Estado e no país é tão demagógica, quanto perturbadora, considerando-se sua linhagem.
Poderia ter apoiado Riedel e não integrado o Governo, com mais de 25 cargos, segundo cálculos da própria Executiva Estadual do Partido.
“Governo Lula é de centro-direita”
O presidente eleito do PT de Mato Grosso do Sul, deputado federal Vander Loubet, justificou o apoio naquelas eleições com as seguintes palavras: “quando apoiamos naquele momento, o Riedel sempre foi um cara de centro-direita, muito democrático. Nós fomos por uma questão estratégica, até porque o próprio governo do presidente Lula é de centro-direita: tem o PP no governo, tem o PSD, o MDB. Ou seja, fizemos a opção de ir para o governo e decidimos, com a maioria do partido, sair agora e colocar esses cargos à disposição”.
Classificar o atual Governo Lula de centro-direita soa como um atestado de que do PT, criado em 1980, resta apenas a sigla e seu significado – literalmente. O bloco do “Centrão”, no Congresso Nacional, esse sim de centro-direita, é notório pela sua atuação fisiológica.
Ao definir o atual Governo Lula como de centro-direita, o deputado Vander Loubet estabeleceu a régua que, em longitude e amplitude, o assemelha às práticas do “Centrão”.
Nota motivou saída
O desembarque do Governo Riedel, foi assim justificado por Vander Loubet – “o denominador comum da nossa saída foi a nota do Riedel. E isso é incompatível com aquilo que nós defendemos. Nós lutamos pela vida, pela redemocratização dos países”.
Não que Riedel não defenda a vida e a redemocratização dos países – pelo contrário, neste momento está em missão na Ásia buscando novos caminhos para a economia do Estado após o tarifaço de Trump que afetou, principalmente a agropecuária e a mineração, para salvar empregos, manter a vida de milhares de trabalhadores, trabalhadoras, empresários e empresárias – mas se assim fosse verdade, o PT permaneceu durante quase três anos em um Governo que ele considerava que não defendia a vida e nem a democracia. Puro fisiologismo, mais uma vez.
Estratégia Eleitoral e Fisiologismo
A esse respeito, vale ressaltar que a nota emitida pelo governador Eduardo Riedel, enquanto iniciava a missão na Ásia no início da semana passada, fala em “excessos judiciais”, como noticiou o CONECTEMS em sua edição matutina de 10 de agosto passado. No mesmo dia, porém na atualização vespertina, este site publicou outra matéria quantificando que Riedel e outros nove Governadores criticaram a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Confira a íntegra da nota que foi reproduzida por este site em sua matéria:
Está tão clara que não requer considerações. “(…) a responsabilidade pública e o esforço de todos agora devem ser na direção de flexibilizar e reduzir as tensões, retomando progressivamente o diálogo e não o contrário(…) precisamos pensar menos em política e mais no país agora(…)”.
Porta dos Fundos
Em coletiva à imprensa na sexta-feira (08) o deputado federal Vander Loubet fez também a seguinte declaração: “assim como a entrada no governo ocorreu pela porta da frente, a saída se dará do mesmo modo”.
Mas ao usar esta nota para justificar o desembarque do Governo Riedel, o PT de Mato Grosso do Sul sai pelos fundos e, talvez, tenha entrado pela lateral, muito impulsionado pelo seu fisiologismo.
***Por ConecteMS com declarações em aspas extraídas do CampoGrandeNews e Correio do Estado