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Preço do boi gordo, entre agosto e segunda quinzena de setembro, registra oscilações com prevalência de ‘pressão baixista’

No último mês, o índice contínuo na B3 foi marcado por estabilidade em agosto, alta abrupta no início de setembro e queda contínua na segunda quinzena do mês, deixando o preço do boi gordo em um patamar mais baixo que no começo do período. Esse movimento mostra como o mercado ainda está bastante sensível a fatores de oferta e demanda, reagindo rapidamente a choques pontuais, mas também corrigindo logo em seguida. A trajetória do período evidencia que, apesar dos momentos de valorização, prevaleceu um cenário de pressão baixista.
Já no mercado físico, o boi gordo mostrou um quadro de enfraquecimento entre agosto e setembro, especialmente em estados do Centro-Oeste e nas praças do Mato Grosso, onde a pressão de oferta resultou em quedas mais intensas. Goiás e Minas Gerais também acompanharam esse movimento de baixa, enquanto na região Norte o cenário foi distinto, com Pará e Rondônia registrando ganhos e revelando que a dinâmica regional continua sendo um fator determinante na formação dos preços. No Mato Grosso do Sul, observamos um comportamento diferenciado: os preços no estado se mantiveram relativamente firmes, com uma leve alta de R$ 3,00/@ em Campo Grande e Dourados. Esse desempenho reforça a resiliência local e sinaliza que, mesmo em um ambiente de maior pressão baixista, algumas praças ainda encontram sustentação no balanço de oferta e demanda.
Demanda
Após os receios iniciais sobre o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que afetariam as exportações ao mercado norte-americano, o Brasil registrou em agosto o melhor resultado da história para o mês. Com a China mais do que compensando a queda nos embarques aos EUA, e outros destinos reforçando seu papel como importantes compradores, o cenário atual evidencia que a diversificação de mercados segue sendo a estratégia mais eficaz para enfrentar os desafios do comércio internacional.
De acordo com as estatísticas mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior, foram embarcadas 268,6 mil toneladas de carne bovina em agosto, um avanço expressivo de 23,5% em relação ao mesmo mês de 2024, quando haviam sido exportadas 217,4 mil toneladas.
Vale lembrar que 2025 foi um ano histórico para os Estados Unidos, já que o Brasil se consolidou como principal fornecedor do mercado americano. Esse movimento fez com que, até abril, os EUA ocupassem consistentemente a segunda posição no ranking dos principais destinos, atrás apenas da China, que manteve liderança absoluta com mais de 50% do total comercializado com o exterior. No entanto, mesmo antes da entrada em vigor das tarifas adicionais, o México já havia demonstrado sua força: em maio, ultrapassou os americanos e assumiu a vice-liderança entre os compradores de carne bovina brasileira.
Assim, quando as tarifas entraram em vigor em agosto, o mercado já aguardava um mês “termômetro”, para medir os impactos da ausência dos EUA nas exportações. O que se observou foi a China ampliando ainda mais seu protagonismo, elevando sua participação de cerca de 53%–55% para quase 60% dos embarques no mês. Esse avanço não apenas compensou a retração das compras norte-americanas, como também reforçou a resiliência da demanda global. Ao mesmo tempo, outros destinos como México, Rússia, Chile e Filipinas, consolidaram sua importância no mosaico da diversificação de destinos da carne bovina brasileira, assegurando que a redistribuição da oferta encontrasse novos canais de escoamento.
Oferta
Na estimativa mensal de abates feita pela StoneX para agosto de 2025, projeta-se uma retração de 6,5% no volume total de animais abatidos no Brasil, que teria alcançado 3,46 milhões de cabeças segundo dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Essa queda se insere no contexto da sazonalidade histórica, que costuma reduzir os abates neste período do ano. O movimento foi puxado, sobretudo, pela menor atividade no abate de fêmeas, estimado em 1,57 milhão de cabeças (-10,5% em relação a julho), enquanto o abate de machos também registrou baixa, mas em ritmo mais moderado, recuando 3,0% e somando 1,89 milhão de cabeças.
Já em relação à destinação da carne, a participação das exportações seguiu em alta, respondendo por 36,9% da oferta brasileira.
Perspectivas
Nos vencimentos futuros do boi gordo na B3, o cenário segue dividido: enquanto os contratos de prazo mais longo permanecem próximos da estabilidade, observa-se uma reação no contrato contínuo, que passou de R$ 309/@ em 18 de agosto para R$ 304,50/@ em 18 de setembro. Já os contratos de dezembro de 2025 e janeiro de 2026 seguem ao redor de R$ 324/@ e R$ 327/@, respectivamente, enquanto os primeiros contratos de fevereiro de 2026 começaram a ser negociados a R$ 330/@.
Com a retenção de fêmeas já em andamento no início da primavera, o efeito mais imediato tem sido a redução nos abates, movimento destacado no segmento de oferta. Nesse contexto, os fatores a serem monitorados nos próximos meses incluem: o ritmo dessa retenção, a evolução dos preços dos animais de reposição e a efetiva disponibilidade de bois terminados em confinamento, já que é justamente essa oferta que costuma atender à maior parte da demanda nesta época do ano. Além disso, as compras da China serão de altíssima relevância, não apenas pelo peso que já possuem no mercado, mas também porque, historicamente, os últimos meses do ano concentram as maiores aquisições do país.