agronegócio
La Niña deve impactar clima e produção agrícola no Brasil e no mundo em 2025/2026
O Relatório Trimestral de Perspectivas para Commodities da StoneX indica uma crescentemente provável formação do fenômeno La Niña no último trimestre de 2025, com potenciais impactos sobre a produção agrícola no Brasil e em diversas regiões do mundo. As informações foram detalhadas por Carolina Jaramillo Giraldo, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Segundo o levantamento, análises da temperatura da superfície do mar mostram resfriamento nas regiões centrais e leste do Pacífico (Niño 3.4 e Niño 3) e aquecimento no Pacífico oeste, configuração típica de La Niña. A especialista ressalta que os principais órgãos internacionais, como a OMM, NOAA e IRI, indicam que o evento deve ser fraco, mas não se descarta o retorno à neutralidade durante o verão no Hemisfério Sul.
Historicamente, La Niña dura entre três e quatro trimestres móveis, embora haja registros de eventos mais prolongados. Em 1984 e 2017, por exemplo, o fenômeno se estendeu por 11 e 6 trimestres, respectivamente. Com base nesses precedentes, há possibilidade de que a La Niña atual se prolongue até os primeiros meses de 2026, afetando as safras do Hemisfério Sul.
Impactos globais
A configuração atmosférica típica de La Niña, com alta pressão no Pacífico central e oriental e baixa pressão no Pacífico oeste, tende a gerar efeitos climáticos distintos:
- Secas: sul da Europa, Ásia Central, leste da África, norte do México, sul do Brasil, Uruguai, sudoeste da Argentina e sul do Chile.
- Chuvas acima da média: Índia, norte da Ásia, América Central, Canadá, norte dos Estados Unidos e oeste da Colômbia.
- Áreas de sinal fraco: Sudeste do Brasil e Bolívia, com condições mais instáveis; restante da América deve apresentar clima próximo da normalidade.
Cenário climático brasileiro
O inverno de 2025 registrou temperaturas abaixo da média, especialmente nas máximas. Para os próximos meses, os modelos indicam temperaturas próximas da normalidade, com variações regionais:
- Outubro: leste de Mato Grosso, oeste da Bahia e nordeste de Goiás até +1 °C acima da média, acelerando germinação da soja, mas aumentando risco de déficit hídrico.
- Novembro: Centro-Oeste, Cerrado e Sul dentro da normalidade; Sudeste com pequenas anomalias, até +1 °C, elevando evapotranspiração em lavouras e cafezais.
- Dezembro e janeiro: Centro-Sul com médias favoráveis ao enchimento de grãos, desde que haja boa distribuição de chuvas; Nordeste e Norte com temperaturas acima da média em alguns pontos.
Riscos Agrícolas
A interação entre La Niña e a Oscilação de Madden–Julian (MJO) pode intensificar os efeitos climáticos no Hemisfério Sul. Quando a MJO se posiciona sobre Indonésia e Pacífico ocidental, ocorre um padrão de Oscilação Antártica (AAO) positiva, deslocando ventos para latitudes mais ao sul.
- Sul da América do Sul: aumento de seca e calor no Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, impactando culturas como milho e soja de primeira safra.
- Trópicos e Sudeste Asiático: chuvas mais intensas na Indonésia, Filipinas e Sudeste Asiático, enquanto o Pacífico central e leste permanece mais seco.
- Brasil Central e Sudeste: precipitações acima da média podem beneficiar soja, milho e café, mas prejudicar cana-de-açúcar e aumentar risco de doenças fúngicas devido à umidade.
Projeções para o Pacífico
Segundo Carolina Giraldo, as previsões de precipitação para o trimestre OND (outubro-novembro-dezembro) de 2025 indicam:
- Sudeste Asiático (Filipinas): chuvas acima da média, com probabilidade de 70%.
- Austrália oriental: sinal de precipitação mais fraco.
- Pacífico central e leste: chuvas entre a normalidade e ligeiramente abaixo da média.
- Equador e costa oeste da América do Sul: risco de seca em áreas costeiras.
A especialista ressalta que essas condições podem afetar diretamente planejamento agrícola, irrigação e safras de grãos e café, além de influenciar o mercado internacional de commodities.

