Política
Ex-procurador do INSS e esposa tiveram aumento patrimonial de R$ 18 milhões, diz CPMI
A médica e empresária Thaisa Hoffmann Jonasson, que depôs à CPMI do INSS nesta quinta-feira, 23/11, não conseguiu afastar as suspeitas que teria atuado, por meio de suas empresas, para intermediar o repasse de recursos irregulares do esquema de fraude em benefícios de aposentados e pensionistas. A afirmação foi feita pelo relator da comissão parlamentar mista de inquérito, deputado Alfredo Gaspar (União-AL).
Esposa do ex-procurador-geral do INSS Virgílio de Oliveira Filho, Thaisa não respondeu à maior parte dos questionamentos do relator. Ela foi inquirida antes do depoimento do marido, que se prolongou durante toda a noite, suspeito de ter recebido propina para criar condições para os descontos em benefícios previdenciários. Os dois são investigados pela Operação Sem Desconto, da Polícia Federal e Controladoria-Geral da União (CGU).
Virgílio Filho também não respondeu à maioria das perguntas e se recursou a falar sobre a movimentação milionárias das empresas de sua mulher e sobre suas relações com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
Imóveis e carros de luxo
Na avaliação do relator, o ex-procurador Virgílio Filho não esclareceu a evolução do patrimônio de sua família. Alberto Gaspar disse estranhar as supostas compras de carros e imóveis de luxo por um servidor de carreira. Ele disse que a CPMI identificou um acréscimo patrimonial de R$ 18 milhões em cinco anos para Virgílio Filho. “O senhor liderou a maior corrupção dentro do INSS. O senhor é uma vergonha para a carreira e deveria estar preso. Não sei por que a Polícia Federal ainda não lhe ouviu e não lhe prendeu”, declarou Gaspar.
O relator destacou ainda reportagem que sustenta que Thaisa e o marido de fizeram a reserva de um imóvel de luxo, no valor de R$ 28 milhões, em Santa Catarina. A construtora desistiu da venda, segundo o site Metrópoles, depois que o casal passou a ser investigado no escândalo do INSS. O relator Gaspar citou ainda relatos de que Virgílio de Oliveira Filho teria comprado um Porsche, entre outros carros de luxo, após a deflagração da Operação Sem Desconto, em abril de 2025.
“Estamos vendo um servidor público, um AGU, que deveria defender os interesses da União, sendo investigado, inclusive pela Polícia Federal (PF), por supostamente receber propina milionária para lesar os aposentados. Um descalabro que já levou à sua demissão do INSS”, definiu Tereza Cristina (PP-MS), que integra a CPMI.
Gaspar afirmou que o Careca do INSS, enviou quase R$ 11 milhões para duas empresas de Thaisa Jonasson, mulher de Virgílio Filho: a Curitiba Consultoria e o Centro Médico Vitacare. O relator afirmou que Antunes “juntou sob seu arco quase R$ 2 bilhões” nas fraudes.
Outra empresa de Thaisa, THJ Consultoria, recebeu R$ 3,5 milhões de outro núcleo do esquema baseado em Sergipe, segundo o relator. Trata-se das entidades Acolher e Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas, que são alvo de investigação da PF. Boa parte dos parlamentares classificou a mulher do ex-procurador como “laranja”.
Parlamentares suspeitam que Oliveira Filho atestou a legalidade de acordos irregulares entre as entidades associativas e o INSS e atuou contra mecanismos de controle sobre os descontos associativos, por exemplo.
À época das fraudes, Oliveira Filho era procurador-geral do INSS, responsável por coordenar os trabalhos de todos procuradores que atuam no órgão e assessorar juridicamente o presidente do instituto. Os procuradores federais atuam como advogados das autarquias, para defender a União, com representação na Justiça e consultoria jurídica.
As fraudes consistiam na falsificação de autorização de idosos para que se tornassem mensalistas de serviços prestados por determinadas associações e sindicatos. Para isso, as entidades utilizavam irregularmente acordos com o INSS para descontar automaticamente as mensalidades das aposentadorias e pensões. A fraude é estimada pela Polícia Federal em R$ 6,3 bilhões, valor referente ao período de 2019 até 2024.
Defesa
Thaisa Jonasson disse que recebeu o dinheiro de três empresas de Antunes como pagamento por serviços de pareceres médicos. Médica endocrinologista, a convocada afirmou que entregará à comissão documentos que comprovam os serviços prestados a partir de 2022. Gaspar questionou a veracidade dos estudos. Ele afirmou que uma das empresas de Antunes que contratou os estudos, World Cannabis, nunca vendeu maconha medicinal. A médica se negou a responder se considerava seu marido inocente. Já Virgílio Filho negou ser corrupto, disse trabalhar para defender a Constituição e apelou pela presunção da inocência.

