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Pedido de recuperação judicial do Frigorífico Balbinos, em Sidrolândia, acende alerta no setor, ameaça empregos e a cadeia produtiva da pecuária
O Frigorífico Balbinos suspendeu atividades, não paga fornecedores e acumula dívidas superiores a R$ 120 milhões. Setor do agro vive explosão de recuperações judiciais no Brasil. O Frigorífico Balbinos Agroindustrial, tem sede em Sidrolândia (MS), entrou em profunda crise financeira e pediu oficialmente Recuperação Judicial junto à Vara Regional de Falências e Recuperações de Campo Grande. Cerca de 350 empregos diretos e 250 indiretos estão em risco.
O agronegócio brasileiro vive uma onda de pedidos de recuperação judicial sem precedentes. Segundo levantamento da Serasa Experian, o número de empresas do agro que recorreram à Justiça para renegociar dívidas cresceu mais de 300% em 2024, impulsionado por juros altos, retração no preço das commodities, seca e inadimplência crescente. Somente em 2025, grandes grupos de proteína animal, cooperativas e tradings agrícolas já ingressaram com pedidos semelhantes. Veja matéria nesta edição.
O pedido do Balbinos foi protocolado em 31 de outubro de 2025, poucos dias após a empresa conceder férias coletivas (desde 10/10) e interromper o contato com fornecedores e produtores. Os pecuaristas afirmam que a empresa interrompeu suas atividades sob o argumento de férias coletivas, que seria uma estratégia para adiar a quitação de notas fiscais vencidas em meados de outubro. Para garantir o ressarcimento, os pecuaristas solicitaram à Justiça o bloqueio de ativos, a penhora de bens e o arresto do gado.
A planta industrial de Sidrolândia tem estrutura física acima de 20.000 m2 de área construída, com capacidade de produção instalada de 800 bovinos/dia.
O montante devido pelo frigorífico a pecuaristas que realizaram a entrega de gado para abate pode variar entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões. Esses valores, ainda não oficialmente confirmados pela empresa, refletem a dimensão do passivo junto a produtores rurais e reforçam a gravidade da crise de liquidez enfrentada pela companhia.
Segundo o documento judicial, a Balbinos declarou endividamento total de R$ 120,8 milhões, sendo R$ 32,5 milhões em dívidas de curto prazo e R$ 130 milhões a longo prazo. O frigorífico, que emprega cerca de 350 colaboradores diretos e 250 indiretos, afirmou enfrentar crise de caixa, com atividades suspensas e impossibilidade de comprar gado para abate. Entre os principais credores estão:
Banco Daycoval – R$ 22,4 milhões
Banco Sofisa – R$ 13,9 milhões
Banco do Brasil – R$ 4,8 milhões Fundo Unique
FIDC – R$ 3,5 milhões
A empresa argumenta que o desequilíbrio financeiro foi causado por investimentos superiores a R$ 50 milhões em modernização da planta, juros altos, volatilidade cambial e redução na oferta de bovinos prontos para abate no Estado. A direção também cita a mudança no perfil produtivo do Mato Grosso do Sul, com o avanço de usinas de etanol de milho, florestas de eucalipto e citrus sobre áreas de pecuária, elevando o custo da arroba.
Além disso, produtores já acionaram a Justiça alegando calote em entregas de gado — os débitos somam mais de R$ 2 milhões. A recuperação judicial é um instrumento previsto na Lei nº 11.101/2005, que permite que empresas em crise financeira suspendam temporariamente suas dívidas e executem um plano de reestruturação, com o objetivo de evitar a falência e preservar empregos e a produção.
De acordo com o pedido da Balbinos, o frigorífico solicitou a suspensão de todas as ações e execuções por 180 dias, período conhecido como “stay period” — tempo em que credores não podem cobrar judicialmente, executar garantias, protestar duplicatas ou apreender bens da empresa. Durante esse prazo, a empresa deve apresentar um plano de recuperação com prazos, descontos e formas de pagamento para cada grupo de credores (bancos, fornecedores, trabalhadores, fisco, etc.). O plano precisa ser aprovado em assembleia de credores. Caso não seja, a consequência é direta: a falência.

