Economia
Em meio a protestos em Bruxelas, acordo União Europeia-Mercosul é adiado para janeiro
A assinatura do acordo com o Mercosul foi adiada para janeiro, disseram três fontes à Reuters. No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que acredita que vale a pena insistir e, se necessário, esperar para viabilizar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, avaliando que eventuais resistências na Europa não refletem prejuízos econômicos reais e podem ser superadas com mais diálogo.
“Eu acredito que vale a pena insistir um pouco mais nessa minha percepção. Porque, primeiro, não há prejuízo. Não há prejuízo para os agricultores italianos e franceses. Não há”, afirmou o ministro durante café com jornalistas no Ministério da Fazenda, nesta quinta-feira (18). Segundo Haddad, parte da oposição ao tratado decorre da exploração política de sensibilidades internas, sem correspondência com o conteúdo do acordo.
Haddad destacou ainda que o texto negociado prevê instrumentos de proteção aos produtores europeus. Para o ministro, se alguns países europeus precisarem de mais tempo para explicar o tratado à opinião pública e aos setores produtivos, a estratégia pode incluir uma espera adicional.
Protestos em Bruxelas

Agricultores que manifestavam contra a assinatura do acordo entre Mercosul e a União Europeia, em Bruxelas, na capital da Bélgica, nesta quinta-feira (18), entraram em confronto com a polícia em meio ao protesto.
Os manifestantes atiraram bombas de fumaça e batatas contra a polícia, enquanto os líderes da UE se reuniam para discutir políticas comerciais e agrícolas.
Por volta do meio da manhã, a polícia respondeu com jatos de água de alta pressão direcionados aos manifestantes mais próximos.
Centenas de agricultores que se opõem ao tratado dirigiram tratores até a capital da Bélgica, buzinando e dando cobertura aos manifestantes que atiravam projéteis contra a polícia.
Agricultores de toda a Europa afirmam que o setor está em crise há anos e acusam a União Europeia de prejudicar seus meios de subsistência por meio de acordos comerciais como o Mercosul e possíveis cortes no orçamento da Política Agrícola Comum.

A manifestação visa pressionar os líderes da UE enquanto avaliam as prioridades orçamentárias e os acordos comerciais que os agricultores temem que aumentem a concorrência e reduzam os preços.
França
O chefe do Executivo francês disse recentemente que “não era possível assinar o acordo”. Haddad afirmou que o tratado tem dimensão que vai além do comércio e envolve um sinal político relevante no cenário internacional.
“Eu mandei uma mensagem para ele [Macron] dizendo que o que estava em jogo não era muito mais do que um acordo comercial. Era um acordo de natureza política, com um sinal claro para o mundo de que nós não podíamos nos voltar para um ambiente de tensão entre dois blocos fechados. Nós tínhamos que abrir essa seara na esfera geopolítica. E o acordo União Europeia–Mercosul era essa clareira que o mundo precisava”, afirmou Haddad. Segundo Haddad, Macron respondeu de forma cordial, destacando apreço pelo Brasil e a necessidade de aprofundar as conversas.
O ministro acrescentou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tratou do tema com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, no esforço de avançar no diálogo político sobre o acordo.
Havia expectativa de que o acordo, que vem sendo negociado há mais de 20 anos, fosse assinado neste sábado (20) na cúpula de líderes do Mercosul. No entanto, após a Itália se juntar à França, Polônia e Hungria, contra o acordo, a formalização foi adiada para janeiro.
A justificativa é ganhar mais tempo para proteger a agricultura desses países. Nesta semana, o parlamento europeu também aprovou medidas de salvaguarda sobre produtos de origem da América do Sul, o que foi avaliado como preocupante por autoridades brasileiras.

