agronegócio
Boi-china provoca nova “revolução” na pecuária de Mato Grosso do Sul
Depois dos melhoramentos genéticos das últimas décadas, o chamado boi-China está provocando uma nova “revolução” na pecuária brasileira, conforme avaliação feita pela analista Cesar Castro Alves, gerente de consultoria de agronegócio do Itaú BBA, durante a quinta edição do evento Agro em Pauta, na última quarta-feira (7), em São Paulo.
Isso está ocorrendo, segundo ele, porque os chinesees estão “obrigando” os produtores a investirem em tecnologia e confinamento para engordar os bovinos cada vez mais jovens, o que está trazendo novo patamar de rendimentos aos produtores. A principal característica desse chamado boi-China é o fato de eles exigirem bovinos com de até 30 meses.
“A China foi determinante para elevar o nível da pecuária no Brasil. Nós começamos a abater animais mais jovens e isso aconteceu muito em função da melhora na nutrição, que veio a reboque de uma safra boa e dos preços atrativos da ração”, explica o analista de mercado Cesar Casto Alves.
Em Mato Grosso do Sul, o total de bovinos abatidos em todo o ano passado fois de 3,52 milhões de cabeças. Destes, 40% faziam parte dos chamados animais precoces, segundo dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Isso significa um aumento de quase dez pontos percentuais na comparação com dois anos antes.
E a tendência é de que os abates cada vez mais precoces continuem aumentando em ritmo acelerado. Em abril deste ano, seis novos frigoríficos foram habilitados e agora Mato Grosso do Sul tem 11 unidades que podem exportar carne bovina para o mercado chinês.
A estimativa é de que com essas novas habilitações o mercado chinês passe de 11% para 57% do total da carne exportada pelo Estado. Até o ano passado, o equivalente a cerca de 470 mil bovinos iam para a China. Agora, esse volume pode chegar a 2,3 milhões de cabeças por ano.
EMBARQUE HISTÓRICO
A importância do chamado boi-China é tamanha que até o presidente Lula veio a Campo Grande em abril deste ano para acompanhar o primeiro embarque destes novos frigoríficos com destino à China.
Mato Grosso do Sul exportou 116,7 mil toneladas de carne bovina no primeiro semestre deste ano e faturou R$ 546,8 milhões de dólares. Isso significa aumento de 23,4% em relação ao faturamento de igual período do ano anterior.
Para o secretário Jaime Verruck, da Semades, “essa expansão vai permitir uma melhoria dos preços internos ao produtor sul-mato-grossense. Teremos aumento da exportação, aumento da balança comercial e, o mais importante disso, é uma melhoria da estrutura de preços internos em Mato Grosso do Sul”.
Atualmente, em Mato Grosso do Sul, a arroba do “boi comum” está na casa dos R$ 235. Enquanto isso, o boi-China está pelo menos R$ 5 reais acima disso. E essa diferença só não está maior, de até R$ 15 reais, porque existe oferta muito alta de boi precoce, explica o analista do Itaú BBA.
E esta alta oferta de gado precoce ocorre porque o preço do milho e do farelo de soja está atrativo e estabilizado faz mais de um ano. Além disso, existe grande oferta do chamado DDG, que é um sub-produto das fábricas de etanol de milho e que é utilizado para alimentar bovinos. No Brasil já existem 21 fábricas de etanol de milho, sendo duas em Mato Grosso do Sul e uma terceira em fase de conclusão.
RENDIMENTO MAIOR
Nos últimos 12 anos, segundo a Semadesc, Mato Grosso do Sul teve redução de 14% no rebanho e 5% no volume de abates. Mesmo assim, o Estado ampliou em 6,5% a produção de carne bovina.
A receita com a comercialização da carne bovina para o mercado externo cresceu 29% nos últimos 5 anos, enquanto o volume aumentou cerca de 3,03% no mesmo período, evidenciando uma melhora nas cotações.
“Isso demonstra que estamos ampliando a nossa produtividade, o peso de carcaça, além de estar encurtando o ciclo. A mudança no perfil de abate com crescimento da participação dos animais de 12 a 24 meses, e a redução dos animais com mais de 36 meses é um indicativo forte de aumento de eficiência do produtor e produtividade do rebanho”, segundo Jaim Verruck.
O próprio poder público está incentivando esta “revolução” que está acontecendo na pecuária. No ano passado, produtores rurais tiveram quase R$ 117 milhões de incentivos para engordarem bovinos mais jovens.. O Precoce MS conta hoje com 969 profissionais responsáveis técnicos habilitados, 3.557 estabelecimentos rurais cadastrados e 26 frigoríficos credenciados.
Incluindo as carnes suína e de frango, a China é o principal destino da proteína sul-mato-grossense, com 25,83% de participação na receita, seguido pelo Chile com 18,39% e Estados Unidos com 16,06%.
Em 2023, o país asiático importou 2,2 milhões de toneladas de carnes do Brasil, ultrapassando mais de US$ 8,2 bilhões em faturamento para os frigoríficos.
Correio do Estado