Cultura/Turismo
Bosco Martins destaca o olhar integrador e as infâncias de Manoel de Barros na Bienal do Pantanal

A 1ª Bienal Pantanal, encerrada neste domingo (12) no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, homenageou o poeta Manoel de Barros, referência da literatura brasileira, conhecido como o “poeta das infâncias”. O evento reuniu escritores, artistas e autoridades em torno da obra e do legado do autor.
Durante a Roda de Conversa “Territórios, Culturas e Geopolítica”, o jornalista e escritor Bosco Martins destacou a visão integradora de Manoel de Barros, que já nos anos 1950 defendia uma rota cultural e econômica ligando o Atlântico ao Pacífico — hoje presente na agenda de infraestrutura e logística do país. Ao lado do escritor James Jorge Barbosa Flores (Jaminho) e sob mediação de Rodrigo Teixeira, Bosco também apresentou a edição impressa de “Diálogos do Ócio”, publicada pela Editora da UFMS, que reúne décadas de convivência e reflexões com o poeta, incluindo versos inéditos recentemente descobertos.
Bosco emocionou o público ao relembrar o episódio em que Manoel, ao ser convidado a escrever memórias da vida adulta e da velhice, respondeu com a trilogia “Memórias Inventadas” — da primeira, segunda e terceira infância. “Só tive infância”, respondeu o poeta ao editor, reafirmando a infância como essência de sua obra e da própria existência.
Jaminho, autor de 17 livros, abordou a diversidade cultural e linguística de Mato Grosso do Sul, que, segundo ele, forma um território “polifônico e poliglota”. Suas obras exploram as tradições, a gastronomia e os costumes regionais, resgatando a identidade miscigenada do estado.
Em outro momento da conversa, Bosco lembrou o episódio em que Manoel de Barros desistiu da advocacia após recusar-se a defender um cliente desonesto. “A invenção de que gosto é outra”, teria dito o poeta, distinguindo a mentira da invenção poética — esta última, segundo Bosco, “amplia e liberta a realidade”.
O encontro contou com a presença do secretário estadual de Cultura, Marcelo Miranda, e de escritores como Douglas Diegues, Lenilde Ramos, Sandra Menezes, Wilson Aquino e Samuel Medeiros. Cerca de 200 pessoas acompanharam a atividade, encerrada sob aplausos.
Bosco Martins anunciou ainda que o Museu-Casa Quintal Manoel de Barros, mantido pela família do poeta e pela Fundação Nelito Câmara, será reaberto em breve, reformado e com novos espaços dedicados à sua obra