Economia
Crise nos Correios é cada vez mais grave e já impacta quadro fiscal do Governo Federal
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou, nesta segunda-feira (24), que a situação financeira dos Correios é “muito ruim” e foi o principal fator por trás da deterioração do resultado agregado das estatais no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 5º bimestre. Segundo ele, o desempenho da estatal postal gerou impacto significativo sobre o quadro fiscal e obrigou o governo a reforçar o monitoramento das empresas públicas.
Durigan explicou que a projeção de déficit das estatais passou de R$ 5,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões negativos, puxada especialmente pelos Correios. Ele afirmou que o resultado efetivo da empresa ficou muito distante do que havia sido projetado.
“A situação dos Correios é muito ruim, e isso tem incomodado. Quando você olha do quarto para o quinto bimestre, o resultado é muito pior do que o esperado. O caso dos Correios nos alerta para a necessidade de acompanhar mais de perto e evitar que situações assim se repitam”, pontuou.
O secretário afirmou que já cobrou da direção da estatal um plano estruturado de recuperação — que já foi apresentado e aprovado pela governança da empresa postal.
“Tenho pedido pessoalmente ao presidente Emmanuel [Rondon] que apresente um bom plano de reestruturação dos Correios. É um plano que está sendo elaborado e deve ser ousado, mas cuidadoso, para garantir que as operações se paguem e melhorem a situação da empresa”, destacou.
Mesmo assim, o plano pode ter efeitos fiscais relevantes no próximo ano. Segundo Durigan, a depender do resultado do plano de reestruturação, pode trazer impacto nos cofres públicos.
“A empresa de fato tem problemas graves, problemas estruturais que devem ser endereçados nesse plano de reestruturação, e isso possivelmente pode trazer um impacto fiscal ainda maior para 2026”, disse.
Segundo o secretário, uma operação de crédito com garantia da União está sendo avaliada como parte do processo de reestruturação, mas o governo descarta aporte direto do Tesouro.
“Entre as alternativas em discussão, há a possibilidade de uma operação de crédito com garantia da União. O que não está na mesa é um aporte direto”, disse.
O movimento ocorre em paralelo às tratativas dos Correios para reforçar o caixa a partir da venda de imóveis ociosos.
A empresa estuda transferir parte de seu patrimônio imobiliário à EMGEA (Empresa Gestora de Ativos), que pagaria antecipadamente 20% a 30% do valor da carteira — estimada entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões — e ficaria responsável por estruturar a venda dos imóveis.
O modelo, já discutido no governo, permitiria acelerar a obtenção de recursos e comporia o conjunto de medidas necessárias para estabilizar a estatal.
Durigan afirmou que, ao contrário dos Correios, a EMGEA não apresenta riscos ao Tesouro.
“Não há nenhum receio em relação à Emgea. Ela tem resultado, tem conta de reserva e tem caixa. Não cabe a mim dizer se ela está indo bem ou mal em uma atividade específica, mas, olhando do ponto de vista dos resultados, é uma empresa que tem lucro, e esse lucro pode ser dividido com o acionista sem problema nenhum.”
Diante da surpresa negativa trazida pelos Correios, o governo reforçou o monitoramento das estatais no âmbito da CGPAR (Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União), colegiado liderado pelo MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), que reúne também Fazenda, Casa Civil e Previdência.

