Economia
CNI tentar reverter tarifaço em Washington, mas esbarra nas questões políticas: “único caminho é o diálogo”

Uma comitiva de empresários, liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), esteve em Washington D.C nesta, reunindo líderes do setor industrial e diplomatas para uma agenda intensa: do encontro com a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti, a reuniões com empresas e autoridades norte-americanas. O objetivo era ampliar a lista de exceções ao “tarifaço” e proteger a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano.
No entanto, o presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou que o dilálogo entre autoridades brasileiras e americanas é o único caminho para que os ânimos se acalmem. Os EUA colocam como condição para negociar um acordo que ponha fim ao tarifaço de Trump e evite novas sanções a discussão da situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar enquanto enfrenta um julgamento por tentativa de golpe de Estado. Para Aban, as negociações devem ocorrer após o julgamento de Bolsonaro, previsto para 12 de outubro. O setor privado brasileiro busca evitar medidas prejudiciais, como tarifas elevadas, e valoriza a relação bilateral.
Nesta quinta-feira (4), aconteceu o Diálogo Empresarial Brasil-EUA, com Ricardo Alban (CNI), Neil Bradley (US Chamber), Abrão Árabe Neto (Amcham Brasil) e Lisa Schroeter (Dow). Além disso, painéis setoriais discutirão os impactos das tarifas e as estratégias conjuntas, encerrando com Roberto Azevêdo (CNI) falando sobre caminhos para fortalecer a parceria econômica.
-“Queremos que esse diálogo seja feito nos termos comerciais e econômicos e de forma racional e técnica. Vamos dar todos os elementos para que possamos começar a ter reuniões objetivas”, afirmou Alban. O líder empresarial adiantou que vai apresentar um balanço das reuniões para o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Comitiva da CNI em Washington participa de audiência sobre Seção 301. (Foto: CNI/Divulgação)
Na quarta-feira (3), o embaixador Roberto Azevêdo, consultor da CNI, subiu ao púlpito do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) para defender a indústria brasileira. Em pronunciamento, Azevêdo reforçou que o Brasil não adotou práticas que onerem ou restrinjam o comércio americano e destacou a importância da parceria bilateral. Além disso, o presidente da CNI, Ricardo Alban, e o embaixador Roberto Azevêdo participaram de reunião com o vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, no Capitólio.
Participaram da missão os dirigentes das federações das indústrias de Minas Gerais (FIEMG), Paraná (FIEP), Paraíba (FIEPB), Rio de Janeiro (FIRJAN), Rio Grande do Norte (FIERN), Santa Catarina (FIESC), Goiás (FIEG) e São Paulo (FIESP).
Interferência política
O tarifaço faz parte de uma série de ações dos Estados Unidos para tentar interferir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados pela tentativa de golpe de Estado. A atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que está morando nos Estados Unidos, em favor das sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras, passou a ser investigada pela Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República.
Os norte-americanos abriram uma investigação comercial contra o Brasil e adotaram tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros, patamar entre os mais altos anunciados até agora na guerra comercial promovida por Donald Trump.
Além disso, o mandatário assinou uma Ordem Executiva (OE) em que considera o Brasil uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional dos EUA, classificação semelhante à adotada contra países considerados hostis a Washington, como Cuba, Venezuela e Irã.
Medidas do governo brasileiro
O governo federal anunciou no último dia 13 uma série de medidas de apoio às empresas, aos exportadores e trabalhadores afetados pelas sobretaxas impostas pelos Estados Unidos contra os produtos brasileiros.
Chamadas de Plano Brasil Soberano, as medidas pretendem fortalecer o setor produtivo; proteger os trabalhadores; e avançar em soluções diplomáticas, comerciais e multilaterais.
Entre as principais ações, estão novos linhas de crédito. Apenas do Fundo Garantidor de Exportações serão R$ 30 bilhões, conforme anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os recursos serão usados como funding para a concessão de crédito com taxas acessíveis e, também, para ampliar as linhas de financiamento às exportações. Empresas mais afetadas terão preferência para obter crédito, levando em conta a dependência do faturamento em relação às exportações para os EUA; tipo de produto; e o porte de empresa.
No caso das pequenas e médias empresas, elas também poderão recorrer a fundos garantidores para acessar o crédito. O governo ressalta que o acesso às linhas estará condicionado à manutenção dos empregos.
Estão previstos, também, aportes de R$ 4,5 bilhões em fundos garantidores; e R$ 5 bilhões em crédito pelo novo Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários (Novo Reintegra).