Cultura/Turismo
Festival Curta Campo Grande encerra cinco dias de troca, formação e celebração do cinema brasileiro
O cinema sempre começa com um gesto simples: alguém olhando para uma história e dizendo “isso merece ser contado”. Durante cinco dias, de 11 a 15 de novembro, esse gesto coletivo tomou forma no Festival Curta Campo Grande, que reuniu realizadores de todo o país, lotou sessões, promoveu encontros e reafirmou o curta-metragem como território vivo da imaginação brasileira.
A segunda edição do festival mostrou que o cinema pulsa com mais força quando encontra plateias acolhedoras. Sessões cheias, debates intensos e uma circulação contínua entre diferentes gerações de realizadores marcaram uma semana em que Campo Grande ressoou a sétima arte em sua potência máxima. Profissionais locais dividiram sala, café e conversas com nomes nacionais e, nessa travessia, a cidade se tornou palco, tela e ponte para novas histórias.
Formação, troca e a presença marcante de Fernando Coimbra
Entre os destaques da programação, a Aula Magna de Direção Cinematográfica com o cineasta Fernando Coimbra — diretor do premiado O Lobo Atrás da Porta e responsável por episódios da série Narcos — foi um dos momentos mais simbólicos do festival. O encontro reuniu dezenas de realizadores que buscavam ouvir de perto a trajetória de um artista que hoje circula entre sets brasileiros e internacionais.
Coimbra falou sobre técnica, intuição, processos e, sobretudo, sobre a força da troca:
“Achei a conversa muito rica, um papo gostoso. As pessoas estavam muito interessadas, cada uma com foco em algo específico. Eu comecei assim, ouvindo quem vinha de fora e levar um pouco de experiência. É importante devolver isso. E festivais fora do eixo, como este em Campo Grande, ajudam talentos a entenderem que fazer cinema é possível. Talento nasce em qualquer lugar”.
A fala ecoou entre o público, que lotou a sala onde ocorreu a aula e prolongou a discussão pelos corredores, fazendo com que o festival se transformasse em um laboratório criativo de cinema.
Curadoria, encontros e o sentimento de pertencimento
Ao longo dos cinco dias, filmes de todas as regiões do Brasil foram exibidos em sessões quase sempre cheias. Para Pedro Miyoshi, diretor do documentário Campo Cênico, vencedor do prêmio de Melhor Curta Documentário pelo júri popular, participar do festival teve um significado profundo. “Ganhar aqui é simbólico. Nosso filme é sobre fazer teatro em Campo Grande, sobre ocupar espaços. O festival reuniu gente do Brasil inteiro, teve debates, trocas, encontros. Cinema não é só o que está na tela, é também o que a gente vive junto e isso foi muito importante”.
A realizadora Amala, que saiu do festival com portas abertas para dirigir seu primeiro curta, também destacou o impacto da experiência. “Esse festival me abriu caminhos. Veio gente do Brasil inteiro, grandes diretores e roteiristas, foi a primeira vez que vi tantos curtas juntos. Isso mostra o valor que essa forma de arte tem. É lindo e é importante”.
O idealizador e diretor geral do festival, Dannon Lacerda, reforçou o espírito de construção coletiva que guiou esta edição: “O barato do festival é que ele não é só meu, da Bianca e da Carol. É de todos nós. A conversa que tivemos com os realizadores mostra o quanto essa troca é fundamental. Eu poderia estar focado apenas nos meus filmes, mas sinto que preciso colaborar com o ambiente onde construí parte da minha trajetória. Estamos todos aprendendo, melhorando a cada dia”.
A força das histórias locais e a emoção dos premiados
A noite de encerramento também foi marcada pela celebração da produção sul-mato-grossense. A Última Porteira, de Rodrigo Rezende, levou dois prêmios importantes: Melhor Ator (Tero Queiroz) e Melhor Curta de Ficção de MS pelo júri popular.
Rezende reforçou o papel das políticas públicas e a necessidade de democratizar o acesso ao cinema: “É vital ter um festival como este. A gente não tem acesso a filmes independentes no circuito comercial. Aqui pudemos ver obras de várias regiões do país. E produzir só é possível por causa das políticas públicas. É difícil, é caro, mas esse reconhecimento dá um gás enorme, é uma confirmação de que estamos no caminho certo”.
O ator Tero Queiroz, emocionado com o prêmio de Melhor Ator, falou sobre o impacto da iniciativa: “Ter um festival dedicado ao curta aqui no Centro-Oeste é ter a chance de mostrar nossas produções e valorizar histórias que muitas vezes ficam engavetadas por falta de janelas. Este festival forma público crítico, ativo, necessário para o futuro da nossa capital. Receber esse reconhecimento na minha cidade é muito simbólico”.
Com sessões concorridas, debates animados, oficinas formativas e encontros que continuarão ecoando nos próximos projetos, o Festival Curta Campo Grande encerrou sua segunda edição reafirmando seu papel no cenário nacional: ser uma janela para a diversidade brasileira, fortalecer o audiovisual de Mato Grosso do Sul e formar novas plateias e realizadores.
Além das mostras competitivas, o festival ainda teve sessões na Escola Estadual Maria Constança Barros Machado (dias 11 e 12), exibição da Directors’ Factory Ceará Brasil, na noite de abertura, quarta-feira (12), laboratório de projetos de curta-metragem, na quinta-feira (13), palestra Distribuição e Internacionalização de Curtas, com Ailton Franco, na sexta-feira (14), Mostrinha (para crianças) e sessão acessível (curtas com legenda, audiodescrição e outras medidas de acessibilidade) no sábado (15), sessões Panorama do Novo Cinema Francês, encontro com realizadores e shows de Begét de Lucena e Luciana Fischer.
O evento é uma realização da Corixo Produções e conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, com execução da Prefeitura Municipal de Campo Grande, através da Fundac (Fundação Municipal de Cultura). Tem como apoio da Fundação de Turismo de MS, Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Governo do Estado de MS e Paradiso Multiplica, além de parcerias com a Aliança Francesa, Capivas Cervejaria, TransCine – Cinema em Trânsito, Festival Curta Cinema e Casa de Ensaio. Os filmes podem ser conferidos pelo site www.festivalcurtacampogrande.
Premiados da 2ª edição do Festival Curta Campo Grande com o Troféu Tuiuiú
Júri Popular
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Melhor curta de ficção nacional: Fruta Frizz, de Kauan Okuma Bueno (SP)
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Melhor curta de ficção MS: A Última Porteira, de Rodrigo Rezende (MS)
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Melhor curta documentário: Campo Cênico, de Pedro Miyoshi (MS)
Júri Técnico
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Melhor curta de ficção nacional: Boiúna, de Adriana de Faria (PA)
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Melhor curta de ficção MS: Sebastian, de Cainã Siqueira (MS)
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Melhor direção: Boiúna, Adriana de Faria (PA)
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Melhor atuação: Tero Queiroz, em A Última Porteira (MS)
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Melhor roteiro: Linda do Rosário, de Vladimir Seixas (RJ)
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Melhor fotografia: Arame Farpado, de Renato Hojda (SP)
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Melhor arte: Cavalo Marinho, Sérgio Silveira (PE)
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Melhor som: Boiúna, Lucas Coelho (PA)
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Melhor montagem: Cardo, de Allan Riggs e Guilherme Suman (RS)
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Melhor curta documentário: Koi e o Rio, de Ricardo Pieretti Câmara e Maurício Copetti (MS)
Menções Honrosas
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Breno Moroni, pelo conjunto da obra
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A Palavra, de DF Fiuza (BA)
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Jardim de Pedra, de Daphyne Schiffer e Rodrigo da Silva Rezende (MS)
Laboratório de Projetos de Curta-Metragem

