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Palavras fantásticas: autoras de MS lançam coletânea na Primavera dos Museus

A literatura fantástica escrita por mulheres de Mato Grosso do Sul ganhou, neste sábado (27), um momento especial na programação da 19ª Primavera dos Museus com o lançamento do livro “Palavras Delas – Uma Coletânea Expressões do Fantástico”. A obra reúne contos que exploram mistérios, inquietações e lembranças, atravessados por elementos que vão do sobrenatural à memória afetiva, refletindo a riqueza criativa de autoras sul-mato-grossenses.
O livro apresenta textos de Victória Haydée, Gleycielli Nonato Guató, Juliana Feliz, Joseane Francisco, Bianca Machado (sob o pseudônimo de Amana), Tânia Souza e Adrianna Alberti. A coletânea conta ainda com o prefácio da escritora e mestre pela UFMS Márcia Longo Dutra, além da apresentação e capa assinadas por Carolina Mancini, mestre pela PUC-SP.

Da esquerda para a direita: Tâmia Souza, Bianca Machado, Joseane Francisco, Gleycielli Nonato Guató e Adrianna Alberti
Para a organizadora da antologia, Adrianna Alberti, o lançamento representa um passo importante para ampliar a circulação de vozes femininas no gênero fantástico. “Os textos da coletânea fazem parte de minha tese de doutorado, resultado de pesquisa sobre escritoras de literatura fantástica do Mato Grosso do Sul. Durante a conclusão, considerei reunir esses contos em uma antologia, especialmente pela dificuldade de acesso a algumas obras. A iniciativa é parte de um projeto pessoal, que visa dar nome, voz, identidade e visibilidade à literatura fantástica do Estado, tornando-a acessível a mais pessoas”.
Entre as autoras, muitas carregam em sua escrita marcas de memória e ancestralidade. É o caso de Gleycielli Nonato, que ressalta a influência da tradição oral de seu povo. “Vivi, na comunidade Guató, em um ambiente de oralidade, de contação de histórias, em que os causos e mesmo nossa trajetória eram assim disseminadas. Essas histórias influenciam meus contos. O fantástico entra na minha vida pela oralidade do meu povo”.
Já Joseane Francisco lembra que a fantasia surgiu ainda na infância, em meio às narrativas familiares. “Eles apreciavam muito as histórias que eu criava quando criança. Inventava contos de fantasmas e todos acreditavam, como se fossem reais. Essa união do meu imaginário infantil com as histórias contadas pelos adultos marcou profundamente minha trajetória. Em parte, o livro deve-se a esses momentos, a essa tentativa de resgatar a memória da minha família”.
Para Bianca Machado (Amana), a criação se dá em diálogo constante com seu entorno. “Em minhas produções, frequentemente dialogo com colegas professores, trocando ideias sobre minhas necessidades criativas, que podem ser apreciadas posteriormente. Minha escrita assume múltiplas formas, lembrando em alguns aspectos os métodos de produção dos autores clássicos”.
Tânia Souza, por sua vez, destaca como o fantástico é um canal para a expressão de medos e sentimentos. “Em diversas histórias de terror e fantasia, muitos personagens femininos são marcados por medos, silenciamentos e metamorfoses. Me identifico com essa representação. Em meu livro Espreitas Delicadezas, minhas personagens também vivenciam essas transformações. O fantástico é uma forma de expressar angústias e delicadezas”.