agronegócio
Resistência a fungicidas avança e exige soluções mais eficientes no manejo
A resistência a Fungicidas é um dos maiores desafios da agricultura moderna e, muitas vezes, se comporta como o uso repetido de alguns medicamentos humanos: quanto mais frequente, menor a eficácia. No campo, quando o mesmo princípio ativo é utilizado constantemente, o organismo ou, neste caso, o fungo, desenvolve formas de se defender. Com o tempo, deixa de responder ao tratamento, reduzindo a eficácia do controle e comprometendo a sanidade da lavoura.
“Na agricultura, a pressão de seleção favorece a sobrevivência dos fungos menos sensíveis. Eles se multiplicam e transmitem essa característica para as próximas gerações. O resultado é uma população resistente e um controle cada vez mais difícil. Por isso, monitorar, alternar e rotacionar fungicidas é essencial para preservar a eficácia das moléculas e garantir uma produtividade sustentável”, explica Paulo Moraes Gonçalves, especialista em Desenvolvimento de Mercado da Ourofino Agrociência.
A resistência a fungicidas é vista globalmente como um dos principais riscos emergentes para a segurança alimentar, segundo estudos internacionais monitorados por redes como o Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas (FRAC) e seu braço brasileiro, o FRAC-BR, responsável por mapear mutações, grupos químicos de maior risco e incidência de resistência nas principais culturas.
Segundo o FRAC-BR, a resistência é especialmente crítica na soja, uma cultura que enfrenta alta pressão de seleção devido ao uso intensivo de fungicidas para controlar doenças. Nos últimos anos, alguns fungos acumularam resistência parcial aos três principais grupos químicos utilizados no manejo: Triazóis (resistência detectada desde 2006/2007); Estrobilurinas (resistência registrada entre 2011 e 2013) e Carboxamidas (SDHI), resistência identificada entre 2016 e 2017.
A Mancha-parda (Septoria glycines), também apresenta casos de resistência a estrobilurinas, carboxamidas e benzimidazóis. Esses quadros ocorrem devido a mutações genéticas que alteram o local de ação do fungicida, reduzindo sua capacidade de interação com o patógeno. O impacto econômico é expressivo: estima-se que, só na soja, as perdas de produtividade associadas à resistência cheguem a 20% ao ano, dependendo da região e do manejo adotado.


