agronegócio
Mais de 30 mil toneladas de carne estão em portos brasileiros para embarque aos EUA

A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) afirma que cerca de 30 mil toneladas produzidas estão nos portos ou já embarcadas e podem chegar aos portos americanos apenas a partir de 1º de agosto.
O receio é que esses produtos sejam taxados em 50%. As contas da Associação indicam que essa parcela represente até US$ 160 milhões em produtos, ou quase R$ 890 milhões com os atuais níveis de câmbio.
No primeiro semestre deste ano, o Brasil exportou para os Estados Unidos 181,5 mil toneladas de carne bovina, segundo a Abiec, cujos integrantes respondem por 98% das exportações. A receita alcançou US$ 1 bilhão, um aumento de 102% em relação ao ano anterior.
Os EUA são o segundo maior destino do produto brasileiro, perdendo apenas para a China. Os americanos enfrentam o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos e, por isso, precisam complementar a produção com carne brasileira.
Mato Grosso do Sul
Conforme dados da Semadesc – Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Mato Grosso do Sul representa hoje 7,3% das exportações brasileiras de carne bovina.
Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior destino da carne bovina exportada por Mato Grosso do Sul, com 18,42% do total comercializado, equivalente a US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas. A China liderou, com 24,18% das exportações, somando US$ 309 milhões e 66 mil toneladas.
No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos mantiveram a posição como segundo maior destino da carne bovina exportada por Mato Grosso do Sul, com US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas embarcadas. Isso representou 9,21% do valor total e 8,78% do volume físico exportado. A China manteve a liderança, com US$ 309 milhões (12,09%) e 66 mil toneladas (11,71%).
O presidente do Sicadems(Sindicato das Indústrias de Carne do Mato Grosso do Sul) e diretor da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Régis Luís Comarella, confirmou que frigoríficos do Estado que produzem carne para o mercado dos Estados Unidos estão interrompendo a produção destinada às exportações.
Produção Interrompida
A tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, só entra em vigor no dia 1º de agosto, mas já interrompeu a produção ou o envio de uma série de uma série de itens exportados para os americanos.
Setores como carne bovina, frutas, pescados e madeira já enfrentam interrupções na produção e no envio, com embarcações paradas, contratos cancelados e incertezas sobre a aplicação da sobretaxa em cargas já embarcadas.
As empresas correram contra o relógio nas primeiras semanas de julho. No Porto de Santos, por exemplo, houve aumentos de mais de 90% de embarcações em alguns setores.
Outros Mercados
Segundo Juliana Pila,analista da Scot Consultoria, caso a nova tarifa entre em vigor em 1º de agosto, a carne bovina brasileira perderá competitividade no mercado norte-americano, que deverá recorrer a outros fornecedores para suprir sua demanda. Esse reposicionamento abriria espaço para que o Brasil redirecione sua produção a outros mercados, aproveitando as lacunas deixadas.
“Se os EUA deixarem de comprar a carne brasileira, muito provavelmente vão ter que buscar fornecedores alternativos, como a própria Austrália, que já exporta carne bovina para os EUA, ou o México. E isso pode gerar um efeito dominó: esses países vão deixar de atender outros mercados, e isso pode abrir oportunidades para o Brasil redirecionar sua produção entre esses destinos. Seria um deslocamento pensando a médio prazo”, avalia Juliana.
A analista também alertou para os possíveis reflexos no mercado doméstico. Caso os embarques não sejam rapidamente redirecionados, parte da carne destinada à exportação pode ser absorvida internamente.
“Se as exportações não encontrarem novos compradores, parte desse volume pode ser direcionado para o mercado interno, barateando a carne bovina”, disse Juliana. No entanto, ela pondera que esse alívio nos preços pode ser passageiro, dependendo do ritmo da realocação das exportações.