Mostra “Erva-Mate – Nos tempos dos ervais” revela sensibilidade cultural de Hélio Serejo

Fotos, arquivos históricos, recortes de jornais, dados e registros das mais diversas fontes se espalham sobre uma mesa de trabalho que homenageia o legado de Hélio Serejo — escritor, jornalista e memorialista que ajudou a narrar histórias e a própria história de Mato Grosso do Sul e de sua rica cultura. É assim que o público é recebido na exposição “Erva-Mate – Nos tempos dos ervais”, aberta na noite desta segunda-feira (11) no Arquivo Público Estadual da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

A mostra reúne fotos históricas, 32 livros — sendo 28 de autoria de Serejo e quatro de outros autores sobre o ciclo ervateiro —, além de artefatos e registros usados no dia a dia pelo escritor. O acervo é composto por peças do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, do Arquivo Público Estadual e de itens cedidos por sua filha, Helta Barbosa Serejo.

“Sua mesa era quilométrica, cheia de coisas, papéis e livros. Esta é menor, mas é uma homenagem muito bela. Relembra seu trabalho, que começava no amanhecer e só terminava no entardecer. Um homem de honra, de muito valor. Esse era meu pai”, relembrou, emocionada, Helita Serejo.

Símbolo afetivo e cultural do Estado, a erva-mate é destaque como elo entre memória, trabalho, ritualidade e pertencimento. Em fotos e textos, aparece como base das relações sociais e econômicas retratadas no material exposto.

“A escolha não foi casual. Representa a essência da sociabilidade sul-mato-grossense e conecta diferentes territórios e gerações em torno de uma tradição compartilhada”, afirma a curadora da exposição, Rita Natalia Serenza, que contou com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico, por meio da jornalista Lu Tanno e da historiadora Madalena Greco.

Nascido em 1912, em Nioaque, Hélio Serejo viveu desde a infância, em Ponta Porã, a lida ervateira. Atuou como fiscal de rendas, cartorário e jornalista, mas sua principal vocação foi a escrita, tornando-se o maior expoente do memorialismo sul-mato-grossense, registrando ciclos, ofícios e, principalmente, a humanidade e a diversidade popular.

Mês dedicado ao Patrimônio

A mostra abre a 1ª Jornada Estadual do Patrimônio Cultural de Mato Grosso do Sul, que acontece ao longo de agosto. Com o tema “Caminhos de Memória: Territórios, Saberes e Resistências”, o evento propõe um olhar sobre as raízes culturais do Estado, abrangendo desde modos de vida pantaneiros até línguas de resistência, festas populares, patrimônio arquitetônico, saberes tradicionais e, especialmente, a cultura da erva-mate.

O diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Mendes, destacou a importância de preservar e difundir o patrimônio cultural. “É fundamental que todos vivenciem momentos como este, projetos amplos que ajudam a compreender nossa história e nossa identidade”.

O secretário de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Marcelo Miranda, também ressaltou a força da memória cultural. “Cresci em um bolicho entre Maracaju e Jardim, ouvindo e vivendo muitas histórias do interior. Valorizar nosso patrimônio é manter vivo nosso sentimento de pertencimento”.

Confira a programação

• 12 de agosto – 17h30, no auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS): exibição do documentário “CAÁ – A Força da Erva”, de Lu Bigatão, seguida de bate-papo com a diretora, mediado por Marcio Veiga.

• 13 de agosto – 17h30, na Biblioteca Dr. Isaias Paim: Tereré Literário – Pesquisa e produção científica referente à erva-mate e ao tereré, com a Profa. Dra. Carla Villamaina Centeno (UEMS) e o Prof. Dr. Carlos Barros Gonçalves (UFGD), mediação de Prof. Me. Douglas Alves da Silva. Apresentação musical de Fabio Kaida.

• 14 de agosto – 17h30, na Biblioteca Dr. Isaias Paim: Tereré Literário – Em memória a Hélio Serejo, com Ciro Ferreira (Contação de Histórias para adultos – “Dos Hélios, O Serejo”) e Helita Serejo. Abertura com Gerson Douglas.

• 15 de agosto – 17h30, na Biblioteca Dr. Isaias Paim: Tereré Literário – A presença da erva-mate e do tereré em MS: do plantio ao consumo, com David Lourenço (Secretaria de Agricultura Familiar de MS) e Raquel M. K. Rossignoli Barizon (UFMS), mediação de Prof. Me. João Santos (IPHAN/MS). Apresentação musical de Maurício Brito & Humberto Yule.

• 16 de agosto – Encerramento da Jornada, a partir das 17h30, na Superintendência Estadual do Iphan (Rua General Melo, 23, Vila dos Ferroviários). Programação: exposição de artes visuais (acervo adquirido via PNAB/FCMS), Grupo Conterrâneo Capoeira – Mestre Liminha, Feirinha do Laricas (Laricas da Lú, Massas Capivara, Zezé do Acarajé, food trucks), show de Matú Miranda (19h), e intervenção Baile Charme – “O Baile é Nosso e o Charme é Preto” (Letícia dos Santos / TGB DJ).